Documentos da Guerra Fria – Afeganistão: a Guerra em Perspectiva

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Traduzido e adaptado para a língua portuguesa por Albert Caballé Marimón*

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Guerrilheiros afegãos sobre helicóptero de Mi-8 soviético derrubado perto da Rodovia Salang, rota vital de suprimentos ao norte de Cabul até a fronteira soviética, 12 de janeiro de 1981 (Foto: AP).

Nesta edição da série “Documentos da Guerra Fria” trazemos uma Estimativa de Inteligência produzida em 1989 após a retirada dos soviéticos do Afeganistão, com prognósticos da situação para o ano seguinte. A URSS aproximava-se de seu final.


Esta Estimativa de Inteligência Nacional Especial nº 37-89 (SNIE, Special National Intelligence Estimate) representa os pontos de vista do Diretor de Inteligência Central com aconselhamento e assistência da Comunidade de Inteligência dos EUA.

Informações disponíveis em novembro de 1989 foram usadas na preparação desta Estimativa Nacional Especial de Inteligência. As seguintes organizações de inteligência participaram da preparação desta estimativa:

  • Agência Central de Inteligência
  • Agência de Inteligência de Defesa
  • A Agência de Segurança Nacional
  • Departamento de Inteligência e Pesquisa, Departamento de Estado

Também participaram:

  • Chefe do Estado-Maior Adjunto da Inteligência, Depto. do Exército
  • Diretor de Inteligência Naval, Depto. da Marinha
  • Chefe do Estado Maior Adjunto, Inteligência, Depto. da Força Aérea

Esta estimativa foi aprovada para publicação pelo National Foreign Intelligence Board. Data de aprovação para liberação: 16 de dezembro de 2010.


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Mapa do Afeganistão e região (Imagem: publicação original).

Principais Percepções

O regime de Cabul é fraco, impopular e faccionalizado, mas provavelmente permanecerá no poder pelos próximos doze meses. A guerra permanecerá em um impasse. O regime continuará resistindo à pressão dos Mujahedins enquanto a URSS continuar disposta e capaz de manter seu programa maciço de suprimento militar e os problemas internos do regime forem administráveis:

  • Os Mujahedins mantêm a iniciativa militar na medida em que se movimentam sem serem impedidos pelo regime na maior parte do interior do país e escolhem quando e onde lutar. A resistência, no entanto, será incapaz de impedir o fornecimento de material soviético às forças do regime. A resistência continuará sendo uma força de guerrilha e terá dificuldades em tomar as principais guarnições do regime.
  • Este conflito é melhor entendido como uma insurgência. Elementos político/militares, como fragilidade do regime, desunião dos Mujahedin e fatores tribais locais serão pelo menos tão importantes para o resultado final quanto considerações estritamente militares.
  • Apesar do amplo apoio popular, é improvável que a resistência altamente faccionalizada forme uma entidade política capaz de unir os Mujahedin.
  • O AIG (Afghanistan Interim Government, o Governo Provisório Afegão) e a maioria dos principais comandantes se recusarão a negociar diretamente com Cabul, impedindo a saída de Najibullah1 e dos principais oficiais do regime, mas não podemos descartar a possibilidade de conversas indiretas.

O Paquistão continuará apoiando a resistência, independentemente de quem ocupe o poder, seja Benazir Bhutto2 ou seus opositores políticos.

Os soviéticos continuarão a procurar um acordo político ao mesmo tempo em que prestarão apoio maciço a Cabul durante o próximo ano. Os movimentos soviéticos podem incluir uma nova iniciativa dramática, especialmente se Gorbachev3 a enxergar como uma maneira de remover a questão afegã da agenda EUA-URSS antes da cúpula no próximo ano.

Uma maneira de romper o impasse seria alterar o padrão de apoio externo:

  • Um corte unilateral dos EUA à resistência alteraria o equilíbrio militar em favor do regime e lhe daria vantagem ao ditar os termos dos acordos políticos.
  • Um corte unilateral do apoio soviético ao regime seria devastador para as perspectivas de Cabul.
  • Cortes mútuos dos EUA e da URSS (“simetria negativa”) seriam muito impopulares entre a resistência, mas no final causariam maior prejuízo ao regime.
  • Mesmo com cortes na ajuda, o conflito provavelmente continuaria indefinidamente, embora em menor intensidade. [SUPRIMIDO]

Para reduzir sua vulnerabilidade a determinados esforços da resistência para derrubá-lo, é provável que o regime continue buscando acordos em separado com comandantes de resistência locais. [SUPRIMIDO]

Discussão4

SITUAÇÃO MILITAR ATUAL E DESENVOLVIMENTOS FUTUROS

Não há vitória rápida

A característica marcante da guerra do Afeganistão desde a saída soviética tem sido a incapacidade da resistência em alcançar uma rápida vitória militar. Quando deserções militares generalizadas e rendições combinadas falharam em Jalalabad e outros lugares, o conflito entrou em um impasse relativo. A guerra é melhor entendida como uma insurgência que provavelmente será prolongada e determinada nos termos tradicionais do Afeganistão, envolvendo localismo, resistência a Cabul e presença de senhores da guerra. [SUPRIMIDO]

Pontos fortes e fracos do regime

O desempenho das forças armadas do regime, enormemente ajudado pelos soviéticos, foi consideravelmente melhor do que o esperado. O regime tem a vantagem de defender-se de posições bem preparadas, protegidas por extensos campos minados e outros obstáculos e apoiadas por foguetes, artilharia e por meios aéreos.

A força aérea do regime provou ser uma arma tática e psicológica eficaz. A maior vulnerabilidade do regime é sua dependência quase completa dos fornecimentos soviéticos. Outras fraquezas incluem a falta de apoio popular, quantidade limitada de mão-de-obra, faccionismo partidário, tensões étnicas nas forças armadas e linhas de comunicação muito extensas.

As forças do regime provavelmente não poderiam resistir a mais do que alguns ataques insurgentes sérios ao mesmo tempo. Certamente, se o regime fosse forçado a se defender de vários ataques simultâneos amplamente dispersos, não seria capaz de manter todas as linhas de comunicação abertas. Os Mujahedin5, no entanto, não conseguiram aplicar uma pressão concentrada que exploraria essa fraqueza. [SUPRIMIDO]

O poderio geral das forças do regime declinou, embora as deserções pareçam estar em queda desde fevereiro. A capacidade das forças do regime em se manter provavelmente melhorou seu moral, mas permanece muito na defensiva. Rixas políticas em Cabul, relatos de tentativas de golpe, aumento de baixas entre oficiais e fraca liderança tática prejudicam as forças armadas. [SUPRIMIDO]

Pontos fortes e fracos da resistência

Após uma primavera de pouca atividade militar – além da batalha de Jalalabad – os Mujahedin se tornaram mais agressivos. Eles fecharam intermitentemente a rodovia Salang e a estrada para Jalalabad e forçaram o comboio Qandahar a fazer um desvio difícil. Eles montaram um impressionante cerco a Khowst, cidade próxima da fronteira com o Paquistão. No entanto, até agora a resistência não conseguiu tomar nenhuma instalação significativa ou impedir o fluxo contínuo de material da URSS para Cabul e sua subsequente redistribuição para as guarnições periféricas. [SUPRIMIDO]

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Os Mujahedin continuam a manter a iniciativa militar na medida em que se movem sem ser impedidos pelo regime na maior parte do interior do país e escolhem quando e onde lutar. Mas não têm capacidade para realizar ataques coordenados contra as principais guarnições do regime.

Eles carecem de planejamento, comando e controle no campo de batalha, apoio logístico e a disciplina de fornecimento que são característicos de uma força convencional. Acreditamos que a resistência continuará como um movimento de guerrilha faccionado [SUPRIMIDO]

Comandantes seguem suas próprias agendas


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Figura 1: “Enfim os soviéticos estão retirando suas tropas! Nossas lutas terminaram!”, diz um afegão ao outro, para em seguida iniciarem um “braço-de-ferro” (Imagem: publicação original).

Um movimento de guerrilha bem-sucedido exige que a maioria dos comandantes da resistência seja motivada a intensificar e sustentar pressão quase simultânea contra instalações do regime e cidades em suas próprias áreas. Desde a retirada soviética, a resistência não tem demonstrado essa capacidade. A falta de uma ameaça do regime no interior do país e expectativas contínuas de seu colapso levaram membros da resistência a se concentrarem mais em fortalecer suas posições individuais do que em derruba-lo.

Os Mujahedin são assediados pelas divisões pessoais, ideológicas, tribais e étnicas que caracterizam o movimento desde sua criação. Muitos comandantes percebem que concorrem com outros. Alguns acreditam que não recebem seu quinhão de suprimentos militares e esperam que lhes seja negado qualquer papel político significativo depois que o conflito terminar. Consequentemente, o foco de alguns comandantes no fortalecimento de suas posições locais reduziu o vigor com que atacaram o regime desde a partida soviética. [SUPRIMIDO]

Em algumas regiões, os acordos políticos tradicionais do Afeganistão estão se reafirmando. Cresce o número de comandantes da resistência tem trabalhado localmente com comandantes do regime, administrando mutuamente territórios com base em acordos do tipo “vida-e-deixe-viver6.

De fato, ao invés de ver uma facção concorrente da resistência tomar o poder em Cabul, alguns desses comandantes provavelmente preferem que o regime fraco e impopular do Partido Popular Democrático do Afeganistão (PDPA, Popular Democratic Party of Afghanistan) permaneça no governo, pelo menos por enquanto. [SUPRIMIDO]

Devido ao impasse militar e à facção da resistência, agora esperamos que o regime do PDPA permaneça no governo nos próximos doze meses7. Não obstante, não acreditamos que os principais comandantes abandonem seu objetivo final de remover o regime de Cabul. [SUPRIMIDO]

Na ausência de grandes mudanças no nível de suprimentos disponíveis para ambos os lados, prevemos uma continuação do status quo durante os próximos meses de inverno. Onde não forem restringidos pelas neves do inverno, os Mujahedin continuarão suas operações de interdição e atrito. O regime terá alguns problemas para manter as linhas de suprimento abertas, possivelmente criando oportunidades que os Mujahedin podem explorar. [SUPRIMIDO]

Tendências potenciais a longo prazo

As profundas fraquezas, fissuras e baixo apelo do regime continuam a torná-lo vulnerável a determinados esforços de resistência para derrubá-lo. Quanto mais tempo o regime sobreviver, maior será a possibilidade de evolução de um sistema político afegão com maior legitimidade interna e internacional sem que haja uma vitória dramática da resistência, um acordo abrangente ou capitulação do regime. Cabul há muito tempo abandonou os esforços para estabelecer um sistema marxista no Afeganistão e agora se apresenta como o campeão do Islã e do nacionalismo afegão.

No contexto de um impasse prolongado e doloroso, acreditamos que uma série de acordos separados com comandantes insurgentes poderosos e mudanças na composição do regime poderiam diminuir as objeções da resistência para um acordo mais amplo. Para alcança-lo, no entanto, seria necessária uma pressão contínua sobre o regime e a eventual remoção de Najibullah [SUPRIMIDO]

Perspectivas políticas


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Tabela 1: o Governo Provisório Afegão (Fonte: publicação original).

O fracasso da resistência em moldar um instrumento político crível privou os Mujahedin de um ativo potencialmente poderoso na luta. Desde o início, a principal vantagem dos Mujahedin era política: a oposição de base nacional ao PDPA.

Mas a resistência foi enfraquecida por disputas internas. Além disso, atrocidades amplamente divulgadas por certas unidades da resistência contra forças do regime em rendição convenceram outras tropas do regime a não se renderem. [SUPRIMIDO]

Do lado positivo, o AIG conseguiu criar uma infraestrutura administrativa e instituiu vários programas importantes de educação, saúde e agricultura. Está prestes a estabelecer vínculos formais com dois importantes comandantes de campo da resistência [SUPRIMIDO]

No entanto, julgamos que os líderes da resistência não serão capazes de oferecer direcionamento unificado no próximo ano. Não há tendência de maior unidade entre os Mujahedins; não há apoio político para a AIG no interior afegão.

A preponderância dos islâmicos e pashtuns Ghilzai8 do leste do Afeganistão levou outros grupos da resistência – pashtuns Durrani, xiitas9, minorias étnicas, alguns comandantes importantes – a sentir que não têm suporte no AIG.

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Além disso, o governo provisório está contaminado por sua estreita associação com a Arábia Saudita e com o Paquistão, cujas organizações de inteligência são percebidas por muitos afegãos como manipulando a resistência, canalizando a maior parte da ajuda para certos grupos favorecidos, particularmente o Hizbi lslami10, de Gulbuddin Hikmatyar11.

Uma forma de contornar o impasse?

As autoridades paquistanesas discutiram a possibilidade e a conveniência de convocar uma nova assembleia de resistência (shura12), talvez em fevereiro próximo, no aniversário da shura que criou o governo interino.

Muitos afegãos anti-regime que se opõem ou se desiludiram com o AIG podem ver isso como uma oportunidade para criar um novo governo provisório mais representativo; alguns deles afirmam que o mandato do AIG expira em fevereiro, qualquer que seja o caso. [SUPRIMIDO]

Atualmente os líderes do AIG e a maioria dos principais comandantes se recusam a negociar com o PDPA. Para eles, a saída de Najibullah e de altos oficiais do regime é pré-requisito para iniciar negociações, embora alguns dos principais comandantes achem isso insuficiente. Não podemos excluir a possibilidade de negociações indiretas durante o próximo ano para tentar remover Najibullah.

Caso uma conversação Soviético-Mujahedin ocorra, pode ser um passo nesse processo. [SUPRIMIDO]

Um papel para o rei?

Um possível retorno do rei exilado, Zahir Shah13, com algum poder, criaria ainda mais divisões. Embora haja apoio ao retorno do rei em muitos círculos afegãos, também haveria forte oposição em termos pessoais e ideológicos. [SUPRIMIDO]

A guerra do Afeganistão e o Paquistão

O Paquistão tem pouca escolha a não ser apoiar a resistência afegã até que o conflito seja resolvido. A primeira-ministra Bhutto e seus conselheiros seniores das Forças Armadas e do Ministério das Relações Exteriores estão atualmente adotando uma política de duas vias no Afeganistão: eles continuarão com total apoio militar à resistência ao mesmo tempo em que pressionam o governo interino a ampliar sua base política, tornar-se mais eficaz e reabrir negociações com os soviéticos.

Os paquistaneses também consideram tirar proveito de fóruns internacionais como as Nações Unidas ou a Organização da Conferência Islâmica14 para buscar um acordo político. Não vemos nenhuma perspectiva de mudança fundamental na política do Paquistão durante o próximo ano; essa abordagem tem amplo apoio entre os políticos paquistaneses, tanto do governo quanto da oposição. [SUPRIMIDO]

O Paquistão não quer uma guerra civil afegã prolongada que impeça os mais de três milhões de refugiados de retornar ao Afeganistão. Embora os cidadãos paquistaneses, até agora, tenham apoiado a resistência sem queixas sérias, essa atitude pode mudar se os refugiados forem vistos como contribuintes para os problemas sociais e econômicos do Paquistão. Os refugiados agravam as tensões em uma sociedade já frágil, mas não vemos isso como uma ameaça à estabilidade geral do Paquistão no próximo ano. [SUPRIMIDO]

Enquanto apoia a resistência, o governo da primeira-ministra Bhutto tentou se afastar de alguns aspectos da política definida pelo falecido presidente Zia15. Em parte por causa das acusações que a política pró-islâmica do Paquistão favoreceu líderes como Gulbuddin Hikmatyar, em detrimento de outros, Bhutto exonerou o chefe da Diretoria de Inteligência Interserviços (ISID, Inter Services Intelligence Directorate) de Zia no início deste ano. Ela garantiu que o Paquistão seguirá uma política mais equilibrada, mas até hoje as percepções afegãs sobre o favoritismo do serviço não foram alteradas. [SUPRIMIDO]

Uma interrupção ou redução severa no apoio dos EUA à resistência tornaria mais difícil para Bhutto continuar ajudando os Mujahedin. Isso a levaria a acelerar a busca de uma solução política e a procurar ajuda de outras fontes. [SUPRIMIDO]

Atitudes e políticas soviéticas

A política soviética vai se concentrar em chegar a um acordo político durante o período desta estimativa. O apoio militar e econômico que a URSS fornece ao regime de Cabul é estimado em cerca de US$ 4 bilhões este ano, mas Moscou provavelmente sente que vale a pena enquanto Najibullah se mantém em Cabul16 Assim, esperamos que os soviéticos continuem a fornecer altos níveis de apoio ao PDPA pelo menos durante o próximo ano. Apesar do desejo de Moscou por um acordo político, provavelmente não concordará com a remoção de Najibullah como pré-requisito para as negociações. No entanto, é provável que concorde com sua saída, juntamente com a do restante da liderança do PDPA, como parte de um acordo final.

Esperança de durar mais que os EUA

Moscou continuará rejeitando a simetria no fornecimento de armas, exceto em conjunto com um cessar-fogo. De forma reservada, muitas autoridades soviéticas lamentaram a rejeição de Moscou aos cortes bilaterais simétricos no suprimento de armas no período anterior à retirada final soviética. Agora, no entanto, eles provavelmente acreditam que a situação militar está evoluindo a favor de Cabul. Moscou provavelmente foi encorajada por recentes debates na mídia americana sobre a política de Washington no Afeganistão.

O que levaria Moscou a mudar suas políticas?

Dada a improbabilidade de qualquer grande mudança pela resistência durante os próximos 12 meses, o ímpeto para qualquer alteração provavelmente viria de eventos em Cabul. Sabemos que o PDPA é faccionalizado e instável; não sabemos qual é a probabilidade de uma cisão.

Gorbachev também pode querer remover a questão afegã da agenda soviético-americana antes da cúpula17 do próximo ano. Os acontecimentos no país e na Europa Oriental provavelmente estão diminuindo a importância do Afeganistão para o regime soviético. Reconhecendo a propensão de Gorbachev às iniciativas diplomáticas, a dinâmica interna soviética pode gerar mudanças políticas no Afeganistão.

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Impulsionados pela contínua sobrevivência de Cabul e pelo que os soviéticos percebem como um impasse na frente de batalha, os soviéticos podem mais uma vez propor discussões com os EUA sobre alguma forma de simetria negativa em conjunto com um cessar-fogo. Isso seria feito como parte de um esforço mais amplo para chegar a um acordo político no Afeganistão. Para esse fim, Gorbachev também poderia tomar ações unilaterais –interromper a entrega de certos sistemas de armas ou propor negociações com a resistência sem pré-condições – o que não ameaçaria a sobrevivência do PDPA. [SUPRIMIDO]

Políticas sauditas e iranianas para o Afeganistão

Tanto a Arábia Saudita como o Irã querem garantir sua própria influência futura no Afeganistão e limitar a do rival. Continuarão a ajudar os seus clientes, independentemente do que outros países façam. Ambos querem fortalecer seus clientes para futuras negociações. O atual papel do Irã não é central na luta. [SUPRIMIDO]

[PARÁGRAFO SUPRIMIDO]

[PARÁGRAFO SUPRIMIDO]

Os iranianos, buscando um papel significativamente maior para si próprios e para os xiitas afegãos do que no passado, querem um Afeganistão livre da influência dos EUA e da Arábia Saudita. As políticas do Irã têm sido consistentes com seus esforços para melhorar as relações com a URSS. Teerã ajudou Moscou a promover o plano de Cabul para um acordo político e incentivou esforços para viabilizar negociações entre o regime de Cabul e o governo provisório afegão. O Irã não se oporia a um acordo envolvendo a formação de um governo de coalizão em que o PDPA participaria; não descartou a possibilidade de Najibullah manter algum papel nesse governo. [SUPRIMIDO]

Impacto dos cortes na assistência militar

Cortes unilaterais

Os Mujahedin continuam dependentes de alto nível de ajuda contínua dos EUA, mesmo que fontes de apoio alternativas estejam disponíveis. Um corte unilateral da ajuda americana, ou mesmo uma redução significativa, diminuiria as capacidades militares da resistência e prejudicaria seu moral. O equilíbrio militar seria substancialmente alterado em favor do regime, que teria a vantagem de definir os termos dos acordos locais de “viver-e-deixar-viver”. Provavelmente aumentaria a influência de terceiros apoiadores – como a Arábia Saudita e o Irã. [SUPRIMIDO]

Um corte unilateral da ajuda soviética para o regime de Cabul seria mais prejudicial do que um corte da ajuda americana para a resistência. Se a ajuda soviética a Cabul cessar e os EUA continuarem a ajudar a resistência, duvidamos que o regime dure muito tempo no poder. [SUPRIMIDO]

Simetria negativa

Na falta de um cessar-fogo, cortes coordenados bilaterais ou multilaterais na ajuda a ambos os lados prejudicariam mais o regime de Cabul do que a resistência, devido à dependência quase total do regime em relação a Moscou para apoiar seus sofisticados sistemas de armas. Os dois lados provavelmente conseguiriam obter suprimentos através de seus próprios canais [SUPRIMIDO]

Embora a simetria negativa18 diminua a intensidade geral das hostilidades, o uso de armas para determinar o resultado das lutas pelo poder continuará indefinidamente. [SUPRIMIDO]

O moral dos Mujahedins despencaria inicialmente, mas, caso fosse aparente que os cortes afetam ainda mais o regime, alguns comandantes da resistência – particularmente aqueles que acreditam que atualmente não recebem seu quinhão de armas dos EUA – acabariam vendo a simetria negativa como uma vantagem pessoal. Não obstante, seria difícil vender o conceito para a maioria deles, que considerariam qualquer corte na ajuda dos EUA como uma traição, independentemente de ter sido acompanhado por um corte na ajuda soviética para o outro lado. A alavancagem dos EUA sobre a resistência, já limitada, seria muito reduzida. Grupos com fontes alternativas de suprimento – principalmente os islâmicos – poderiam se beneficiar mais. [SUPRIMIDO]

[PÁGINA SUPRIMIDA]

[PÁGINA SUPRIMIDA]

Soviet Paratrooper vs Mujahideen Fighter: Afghanistan 1979–89 (Combat Book 29) (English Edition) por [Campbell, David] LIVRO RECOMENDADO:

Soviet Paratrooper vs Mujahideen Fighter: Afghanistan 1979–89

  • David Campbell (Autor), Johnny Shumate (Ilustrador)
  • Em inglês
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Notas

Nota do VG: Mohammad Najibullah Ahmadzai foi presidente do Afeganistão entre 1987 e 1992.

2 Nota do VG: Benazir Bhutto foi duas vezes primeira-ministra do Paquistão e a primeira mulher a ocupar o cargo de chefe de governo num país islâmico.

Nota do VG: Mikhail Gorbachev foi Secretário-Geral do Partido Comunista da URSS de 1985 a 1991, tendo sido o último líder da extinta URSS.

Nota original: O SNIE 11/37-88 de março de 1988, “URSS: Retirada do Afeganistão”, previu incorretamente que o governo de Najibullah não sobreviveria por muito tempo à conclusão da retirada soviética e que o regime poderia cair antes que a retirada fosse concluída. A estimativa atual avalia as perspectivas militares e políticas do regime para o próximo ano.

Nota do VG: os rebeldes afegãos. Mujahedin significa “combatente” ou “alguém que se empenha na luta (jihad)”; também traduzido como “guerreiro santo”.

Nota original: analistas da CIA concordam que os acordos aumentaram desde a retirada soviética. Eles observam, no entanto, que muitos acordos ocorreram em áreas onde o combate foi baixo – nas províncias de Ghowr, Herat e Badghis, por exemplo. Nas áreas militarmente centrais das províncias do Afeganistão – Nangarhar e Paktia, as províncias que cercam Cabul, naquelas ao longo do caminho para a URSS – tais acordos não estão aumentando. Além disso, observamos que os acordos em todas as áreas tendem a ser transitórios. [SUPRIMIDO]

7 Nota original: o vice-diretor de inteligência da CIA concorda que as perspectivas do regime melhoraram em relação ao que eram no momento da retirada soviética. Ao mesmo tempo, as ameaças políticas e militares fundamentais que o regime enfrenta não mudaram, com o resultado de que Najibullah permanecerá vulnerável no próximo ano, assim como permanecerá vulnerável se sobreviver mais do que um ano. É menos provável que a queda do atual regime afegão ocorra como consequência direta de uma ofensiva militar dos Mujahedin do que por uma combinação de pressão militar e fissuras políticas internas. Sabemos que essas fissuras existem, mas nossas informações não são tão detalhadas para prever quando se tornarão críticas e quantos meses o regime irá durar [SUPRIMIDO]

Nota do VG: os pashtuns são um grupo etnolinguístico do leste e sul do Afeganistão e das províncias da fronteira noroeste no Paquistão. Caracterizam-se pela língua própria, código de honra religioso pré-islâmico e pela prática do islamismo. Ghilzai e Durrani são confederações tribais pashtuns.

9 Nota do VG: Xiitas são os fiéis de uma seita do Islamismo que significa “partidários de Ali”. Os xiitas consideram Ali (primo e genro do profeta Maomé) o sucessor legítimo da autoridade islâmica.

10Nota do VG: Hizbi Islami (“Partido Islâmico”), é uma organização islâmica política e paramilitar conhecida por combater o governo comunista Afeganistão e a URSS.

11 Nota do VG: fundador do Hizbi Islami. Foi primeiro ministro do Afeganistão entre junho de 1993 e julho de 1994.

12 Nota do VG: palavra árabe para “consulta”. É uma atividade usada na organização de assuntos de uma mesquita e de organizações islâmicas; termo comum relacionado à nomeação de parlamentos.

13 Nota do VG: Mohammed Zahir Shah (15 de outubro de 1914 – 23 de julho de 2007) foi o último rei do Afeganistão, reinando de 8 de novembro de 1933 até ser deposto em 17 de julho de 1973.

14 Nota do VG: Organização para Cooperação Islâmica, OCI, organização intergovernamental com delegação permanente na ONU; Reúne 57 países com expressiva população islâmica do Oriente Médio, África, Ásia, Europa e América do Sul.

15 Nota do VG: Muhammad Zia-ul-Haq (12 de agosto de 1924 a 17 de agosto de 1988) foi o sexto presidente do Paquistão depois de declarar lei marcial em 1977. Foi chefe de estado de 1978 até sua morte em 1988.

16 Nota original: este valor representa uma estimativa do custo da assistência ao Afeganistão. O ônus dessa assistência na economia soviética presumivelmente seria menor; grande parte do equipamento pode vir da redução de estoques existentes ou entrar em paralelo à produção regular. Também é menos da metade dos aproximadamente onze bilhões necessários para as operações militares e ajuda total soviética em 1987 – o último ano para o qual há estimativas detalhadas disponíveis.

17 Nota do VG: as cúpulas entre a URSS e os EUA foram realizadas de 1943 a 1991. Os assuntos, discutidos entre o Presidente dos EUA e o Secretário Geral do Partido Comunista da URSS, iam desde o combate às potências do Eixo na Segunda Guerra Mundial até o controle de armas entre as duas superpotências durante a Guerra Fria.

18 Nota original: estamos confiantes em nossa capacidade de monitorar a conformidade geral soviética com um acordo de simetria negativa. Podemos monitorar tendências nas entregas soviéticas e detectar, em tempo hábil, a entrega de grande número de itens de maior tamanho, como aeronaves, tanques e caminhões, [SUPRIMIDO] (Observação do VG: o ponto exato desta nota não foi identificado no texto original, possivelmente estava num parágrafo suprimido; mas refere-se a este capítulo e, no contexto, é perfeitamente compreensível).


*Albert Caballé Marimón possui formação superior em marketing, é fotógrafo profissional e editor do blog Velho General. Já atuou na cobertura de eventos como a Feira LAAD, o Exercício CRUZEX e a Operação Acolhida. É colaborador do Canal Arte da Guerra e da revista Tecnologia & Defesa. Pode ser contatado através do e-mail caballe@gmail.com.


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