Documentos da Guerra Fria: A importância dos desdobramentos do TU-95 “Bear D” na África Ocidental

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Traduzido e adaptado para o português por Albert Caballé Marimón*

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Tu-95 em reabastecimento aéreo (Foto: Ministério da Defesa da Federação Russa)

Este memorando de inteligência1 foi produzido abril de 1977 por agências americanas e analisa o alcance do reconhecimento aéreo da aeronave soviética TU-95 Bear D partindo da base de Conacri, na Guiné (África), e avalia as possíveis cidades alternativas. Reconhece as capacidades do Tu-95, seu protagonismo no sistema de inteligência naval soviético e revela a preocupação americana com a aeronave. O documento foi liberado com partes omitidas, assinaladas como [TRECHO SUPRIMIDO].


Principais percepções

  • O desdobramento de aeronaves soviéticas de reconhecimento naval de longo alcance TU-95 Bear D em Conacri2 e a realização de voos operacionais a partir desse aeroporto estão de acordo com o padrão de expansão das operações navais soviéticas fora de sua área.
  • As implantações do Bear D em Conacri, iniciadas em 1973, são parte de um esforço soviético para expandir sua área de vigilância marítima, que inclui desdobramentos em Cuba, na Somália e, muito recentemente, em Angola. Baseados nesses quatro países, bem como em bases soviéticas na Península de Kola, os Bear D podem operar em praticamente qualquer área dos oceanos Atlântico e Índico.
  • Em geral, as missões operacionais dos Bear D representam baixa ameaça à área continental dos EUA. No entanto, as aeronaves baseadas em Conacri, em Cuba e nas bases soviéticas na Península de Kola contribuem na ameaça às forças navais ocidentais que operam ao norte do Oceano Atlântico, incluindo o Mediterrâneo.
  • O uso de bases na Guiné e Angola estendeu a área de reconhecimento aéreo soviético a áreas do Atlântico Sul às quais não poderiam chegar a partir de Cuba ou da URSS.
  • Em tempos de paz, o Bear D operando em Conacri pode executar vigilância oceânica, coletar informações, realizar missões de busca e resgate e apoiar o programa espacial tripulado soviético.
  • As missões de vigilância oceânica fazem parte de um esforço soviético em nível mundial de monitorar as forças navais de superfície ocidentais para manter conhecimento razoavelmente preciso da disposição dessas forças quando do início de uma crise ou de hostilidades.
  • Em tempos de paz, grande parte do esforço de reconhecimento e coleta de informações no leste do Atlântico, agora executado pelos Bear D a partir de Conacri, poderia ser realizado a partir da Península de Kola ou de Cuba. No entanto, o tempo de voo até essas áreas de vigilância aumentaria e o tempo sobre o objetivo seria reduzido.
  • As funções em tempo de guerra dos Bears incluem reconhecimento tático em apoio às operações navais soviéticas, direcionamento de alvos contra forças navais dos EUA/OTAN – especialmente porta-aviões [TRECHO SUPRIMIDO].
  • Os Bear D são um componente extremamente importante do sistema soviético de vigilância oceânica na localização e direcionamento de alvos para forças de superfície.
  • Outros componentes, isoladamente ou combinados, não são comparáveis ao Bear D, mas aprimoram a eficácia de suas operações.
  • [TRECHO SUPRIMIDO]
  • Se os soviéticos perdessem o acesso à Guiné, provavelmente procurariam restabelecer essa capacidade em outro país africano. A maioria eles é pobre e alguns podem ficar tentados a permitir o uso soviético de suas instalações em troca de ajuda. No entanto, vários fatores – políticos, logísticos, técnicos e geográficos – dificultariam ou frustrariam um esforço soviético para restabelecer a capacidade de reconhecimento do Bear na África Ocidental.
LIVRO RECOMENDADO:

Tupolev Tu-95 Bear, Warbirdtech V. 43

  • Yefim Gordon, Peter Davison (Autores)
  • Em inglês
  • Capa Comum

Argumentação

I. ANTECEDENTES

  1. O desdobramento de aeronaves de reconhecimento de longo alcance navais soviéticas Bear D nos aeródromos da África Ocidental está de acordo com o padrão das operações navais desenvolvidas fora da área soviética. Aeronaves de reconhecimento naval soviético e, em menor grau, aeronaves anti-submarinas, participam de missões em aeródromos estrangeiros desde 1968, mas essas missões têm aumentado em frequência, duração e número de países visitados desde o início dos anos 1970.
  2. A implantação do Bear D na Guiné, iniciada em 1973, é apenas um dos elementos no esforço soviético para expandir sua área de vigilância marítima. Operações similares começaram em Cuba em 1970, na Somália em 1976 e em Angola em janeiro de 19773. A partir desses quatro países, bem como de bases na Península de Kola, o Bear D pode realizar operações em praticamente qualquer área dos oceanos Atlântico e Índico. A partir desses aeródromos, as aeronaves da Aviação Naval Soviética (SNA, Soviet Naval Aviation) contribuem nas capacidades militares soviéticas com vigilância oceânica aprimorada, melhoria na resposta a crises internacionais e contingências operacionais e maiores oportunidades de coleta de informações.
  3. Desde 1973, dezoito desdobramentos de pares de Bear D foram realizados em Conacri. Esses voos foram feitos principalmente para fornecer ao sistema soviético de vigilância oceânica a capacidade de monitorar operações navais ocidentais e faixas de trânsito de porta-aviões no Atlântico. As aeronaves permanecem em Conacri em média dezessete dias – o período mais longo foi de quarenta e dois dias e o mais curto, de seis dias. Pelo menos trinta e sete missões de reconhecimento foram realizadas nesses desdobramentos. Nove envolveram atividades de reconhecimento conhecidas de intensidade variada contra navios da Marinha dos EUA ou da OTAN; quatro ou cinco podem ter sido relacionadas ao apoio a unidades navais soviéticas; e seis ou sete foram a participação das aeronaves nos principais exercícios da frota soviética, incluindo cinco durante o exercício naval mundial soviético OKEAN 75. A maioria dos outros voos, cujos objetivos não são conhecidos, podem ter sido missões de busca a navios dos EUA ou da OTAN em áreas onde se espera que esses navios operem. Os Bear D operaram em Conacri durante dois períodos de tensão, a guerra no Oriente Médio em outubro de 1973 e a guerra civil angolana em 1975-76.
  4. Durante o desdobramento mais recente, pares de Bear D realizaram seis missões de reconhecimento: três contra a Marinha dos EUA e outras forças da OTAN realizando um exercício no Mar Mediterrâneo. Provavelmente os objetivos de inteligência desses voos foram a identificação das unidades envolvidas e alguma avaliação do escopo e caráter do exercício. Tais operações dão aos soviéticos a oportunidade de obter uma experiência realista e aumentar a prontidão da SNA no cumprimento das funções de guerra.

II CAPACIDADES E USOS DO BEAR D

Usos em tempos de paz

  1. O Bear D representa uma combinação eficiente de alto desempenho (grande área de pesquisa, longa duração e reação rápida), disponibilidade de sensores (radar, equipamento de interceptação eletrônica, câmeras), elemento humano significativo e flexibilidade operacional única entre as plataformas soviéticas de reconhecimento. O Bear D é um avião multimissão altamente adaptável configurado para executar missões em tempo de paz de vigilância oceânica, coleta de informações, auxílio em missões de busca e salvamento e suporte ao programa de voo espacial tripulado soviético.
  2. O reconhecimento de forças navais ocidentais possibilita a coleta de informações visuais, fotográficas e eletrônicas (ELINT, Electronic Intelligence), a partir da qual dados sobre configurações de navios, aeronaves, armas e equipamentos eletrônicos podem ser desenvolvidos [TRECHO SUPRIMIDO].
Escopo Potencial da Cobertura de Vigilância TU-95D do Oceano Atlântico.jpg
Mapa mostrando a potencial área de reconhecimento do TU-95 Bear D no Oceano Atlântico a partir de Conacri, considerando raio de combate de 3.150 milhas náuticas sem reabastecimento e três horas sobre o objetivo (Fonte da imagem: documento original)

[TRECHO SUPRIMIDO]

LIVRO RECOMENDADO:

A Guerra Fria

  • John Lewis Gaddis (Autor)
  • Em português
  • Capa dura

Papel em tempo de guerra

  1. As funções de guerra atribuídas à aeronave incluem reconhecimento tático em apoio a navios, submarinos e aeronaves de ataque soviéticas, direcionamento de alvo contra forças navais dos EUA/OTAN – especialmente porta-aviões [TRECHO SUPRIMIDO].
  2. Os Bear D fazem parte das forças de uso geral da Marinha Soviética [TRECHO SUPRIMIDO].

III OUTROS MÉTODOS SOVIÉTICOS PARA A VIGILÂNCIA OCEÂNICA

  1. O Sistema Soviético de Vigilância Oceânica (SOSS, Soviet Ocean Surveillance System) é composto por vários componentes dos quais o Bear D é apenas um. Utilizado em conjunto com outros elementos do SOSS, o Bear D fornece dados importantes de localização e direcionamento de alvos a unidades de superfície. Outros componentes do sistema não são capazes de substituir as contribuições do Bear D.
  2. A rede soviética de Localização de Direção de Alta Frequência (HFDF, High Frequency Direction Finding) fornece grande parte dos dados de reconhecimento de superfície em tempo de paz, quando os navios emitem sinais de rádio livremente.
  3. Os satélites de reconhecimento oceânico de radar (RORSAT, Radar Ocean Reconnaissance Satellites), embora capazes de pesquisar grandes áreas, não possuem a flexibilidade, a capacidade de resposta, tempo sobre o objetivo e capacidade de identificação de alvos de uma aeronave tripulada.
  4. [TRECHO SUPRIMIDO]
  5. Os navios, sejam eles de coleta de inteligência, combatentes ou mesmo navios mercantes, competem com a aeronave em termos de recursos de identificação, mas não possuem a velocidade, a capacidade de resposta ou a abrangência de área de vigilância do Bear D.

IV CONTRA MEDIDAS TECNOLÓGICAS CONTRA O BEAR D

[TRECHO SUPRIMIDO]

V. VALOR PARA OS SOVIÉTICOS DOS VOOS DO BEAR D DE CONACRI

  1. Embora os Bear D estacionados em Conacri representem baixa ameaça estratégica soviética à área continental dos EUA, essas aeronaves, juntamente com os Bear D estacionados em Cuba e na Península de Kola, contribuem para ameaçar as forças navais ocidentais que operam no norte do Oceano Atlântico incluindo o Mar Mediterrâneo. Como indicado acima, o Bear D é um elemento extremamente importante no sistema de vigilância oceânica soviético. Durante tempos de paz, a disposição geral das forças da superfície naval ocidental é monitorada para fins de contingência, para que os soviéticos obtenham um conhecimento razoavelmente preciso de suas posições quando do início de uma crise ou de hostilidades. Em situação de guerra, esse conhecimento facilitaria o subsequente direcionamento de alvos contra as forças ocidentais.
  2. O uso de aeródromos da África Ocidental estendeu a área de reconhecimento aéreo dos soviéticos a áreas do sul do Oceano Atlântico às quais não chegariam partindo de Cuba ou da URSS.
  3. Durante o período de maior tensão antes e durante a guerra árabe-israelense de outubro de 1973, os Bear D foram continuamente enviados a Conacri [TRECHO SUPRIMIDO] e conduziram pelo menos três missões contra as forças navais dos EUA que operavam na área leste do Atlântico. Os soviéticos estavam obviamente empregando esses recursos avançados de reconhecimento para determinar a extensão da reação naval dos EUA à crise e especificamente para identificar as forças envolvidas.
  4. Em tempo de paz, grande parte do esforço de coleta e reconhecimento de informações no leste do Atlântico, agora realizado pelos Bear D de Conacri, poderia ser realizado por missões originadas na Península de Kola. No entanto, o tempo de voo até a área de vigilância aumentaria bastante e o tempo sobre o objetivo seria significativamente reduzido.
  5. Em um voo de reconhecimento, o tempo sobre o objetivo é baseado na distância entre a área de busca e o aeródromo de origem. Para cada hora sobre o objetivo, o tempo de trânsito deve ser reduzido aproximadamente na mesma quantidade. Assim, as aeronaves da Península de Kola podem atingir a área a oeste de Gibraltar e outras áreas no meio do Atlântico, mas devido às distâncias envolvidas, têm apenas um curto período na área-alvo. Aeronaves partindo da Guiné, por outro lado, podem chegar às mesmas áreas muito mais rapidamente e realizar vigilância ou coleta de informações por período prolongado.
  6. Se Conacri não estivesse disponível para os desdobramentos do Bear D, os soviéticos teriam que modificar seu esforço de reconhecimento no norte do Atlântico, confiando mais em voos da Península de Kola ou de Cuba. Devido à distância envolvida, Conacri também é atraente como ponto de reabastecimento para os Bear D que se deslocam para Luanda; os Bears enviados a Luanda em janeiro reabasteceram lá. A permissão de desembarque da SNA na Guiné e o acesso recentemente adquirido a Luanda também oferecem aos soviéticos uma alternativa, apesar da longa rota aérea para bases na Somália, caso o Irã decida negar-lhes a permissão de sobrevoo de seu espaço aéreo para sua rota usual.
  7. Além do valor militar, os desdobramentos do Bear D em Conacri e outros lugares da África contribuem para os objetivos políticos soviéticos na região. Na opinião do Presidente Sékou Touré4, os Bear D fazem parte da presença soviética que protege a Guiné contra ameaças de países vizinhos hostis e “imperialistas”. A presença periódica dos Bear D em Conacri provavelmente não é amplamente conhecida na África. Mas, em geral, evidências da presença militar soviética são suficientes para moderar os estados africanos, que já temem as consequências da presença soviética e cubana em Angola. Tais temores fizeram com que alguns desses estados se preocupassem cada vez mais com acordos locais de defesa e possíveis ameaças à sua segurança incentivadas pela URSS e por Cuba.
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VI SITES ALTERNATIVOS DE IMPLANTAÇÃO

  1. Se os soviéticos perdessem o acesso à Guiné, provavelmente procurariam restabelecer sua capacidade em outro país da África ocidental. Nenhum país da região concordaria automaticamente com isso. Vários deles, no entanto, precisam muito de assistência econômica e podem ficar tentados a permitir o uso soviético de suas instalações em troca de ajuda. No entanto, existem outros fatores que dificultariam ou frustrariam um esforço soviético de realocação.

Considerações logísticas e operacionais

  1. Considerações logísticas sugerem que Moscou preferiria um campo de aviação próximo de instalações portuárias, onde navios soviéticos poderiam chegar para fornecer combustível, suprimentos e apoio à comunicação.
  2. O comprimento da pista presumivelmente seria um fator muito importante. Requisitos de pista variam de acordo com a carga transportada pela aeronave, as condições climáticas e a presença de obstáculos no seu final. Por exemplo, um Bear poderia fazer um pouso de emergência numa pista de até 1.200 metros. Sob condições ideais, poderia decolar totalmente carregado com 1.700 metros. As condições raramente são ideais, no entanto, e os soviéticos geralmente procuram e obtêm pistas com pelo menos 3.000 metros de comprimento para operações regulares em tempo de paz. Durante uma guerra ou crise, eles provavelmente usariam pistas mais curtas se necessário.
  3. A julgar por operações anteriores do Bear D, acreditamos que seus requisitos de suporte num desdobramento de duas a três semanas são modestos. A maioria dos aeródromos com pista de 3.000 metros e instalações de suporte razoavelmente completas para aeronaves em geral, pode acomodar operações do TU-95 com apenas o mínimo necessário em termos de pessoal e material. O padrão é que o desdobramento de um par de Bear D no exterior seja precedido por dois cargueiros médios AN-12, ou, no caso de Cuba, de um único TU-114. Essas aeronaves trazem pessoal, equipamentos de apoio de solo e peças de reposição para um desdobramento típico fora de área. O uso do TU-1145 para desdobramentos em Cuba é ditado pela longa distância sobre a água e não por requisitos de suporte diferentes.

Cabo Verde

  1. Os soviéticos provavelmente considerariam o Aeroporto Internacional do Sal6 em Cabo Verde o mais atraente entre as opções existentes que poderiam apoiar adequadamente as operações do Bear D. Apesar da adequação de Sal, por razões políticas é altamente improvável que o governo de Cabo Verde concorde com o apoio necessário e outros arranjos.
  2. Atualmente, aeronaves civis de todas as nações usam Sal, mas aeronaves militares estão autorizadas a usá-lo apenas em base ad hoc. Os soviéticos poderiam oferecer ajuda econômica muito necessária como contrapartida. Enquanto a ajuda vier de outras fontes nacionais e internacionais, é improvável que Cabo Verde aceite uma oferta soviética.
  3. Embora intimamente ligado à radical Guiné-Bissau por um partido político governante em comum, o governo de Cabo Verde, basicamente moderado, procura manter uma postura não alinhada nas relações exteriores. Mantém boas relações com os EUA, que é sua terceira fonte mais importante de assistência econômica (depois da Holanda e de Portugal). Cabo Verde tem laços estreitos com os EUA devido à grande comunidade cabo-verdiana que reside no país.

Guiné-Bissau

  1. A pista de 2.400 metros do aeroporto de Bissau é curta para os requisitos rotineiros do Bear D. O uso efetivo desse campo exigiria seu alongamento e a modernização das instalações. Embora os soviéticos tenham executado um recapeamento da pista, ela não foi prolongada. Como alternativa, eles podem construir um novo aeroporto para o governo da Guiné-Bissau, mas não há evidências de tal construção.
  2. Apesar da importante assistência econômica e militar soviética atual e de sua posição mais radical nas relações exteriores, a Guiné-Bissau, como Cabo Verde, também deseja se manter livre de grandes rivalidades de poder e provavelmente não será receptiva a um pedido soviético de instalações para os Bear D em troca de um aumento da ajuda.
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Mali

  1. Uma oferta de assistência militar ou econômica significativamente maior ao endividado Mali, em troca da permissão de uso para os Bears provavelmente seria tentadora. No entanto, o Mali não compartilha da suspeita da Guiné sobre seus vizinhos, e provavelmente não sente necessidade de uma presença militar soviética protetora. O governo pensaria duas vezes sobre como um acordo com os soviéticos afetaria os EUA, um importante doador de ajuda ao país.
  2. De qualquer forma, os soviéticos estão melhorando os campos de pouso no Mali. Atualmente, a pista do antigo aeroporto de Bamako está sendo ampliada de 2.100 para 3.000 metros. Um possível objetivo seria proporcionar instalações aprimoradas para aeronaves cargueiras soviéticas em caso de transporte aéreo futuro para o sul da África. Os aeroportos do Mali e da Guiné foram utilizados no transporte aéreo soviético para Angola.
  3. O Mali é uma escolha improvável para área de desdobramento do Bear D por várias razões. Sua falta de ligação com o oceano pode levantar problemas potencialmente graves de permissões de sobrevoo necessárias para permitir as operações regulares do Bear D. Da mesma forma, a falta de acesso ao mar aberto complicaria o apoio logístico, principalmente em tempos de crise.

Outras possibilidades para o sul

  1. Vários países mais ao sul podem ser receptivos à realização de voos do Bear D. No entanto, sua localização, longe da área operacional usual da aeronave no norte do Atlântico, os tornaria uma péssima alternativa a Conacri.
  2. BENIN. Do ponto de vista político, um candidato promissor seria o Benin, um autoproclamado estado “marxista-leninista” em desespero econômico. Benin suspeita particularmente do Ocidente e é inseguro desde o ataque mercenário a Cotonou7, em meados de janeiro. Apesar de sua declarada ideologia, o Benin não tem sido particularmente próximo da União Soviética, preferindo o modelo socialista norte-coreano. Além disso, os soviéticos provavelmente desconfiam da instabilidade inerente às instituições beninenses, que resultaram em inúmeras mudanças de governo desde a independência do país. No entanto, um compromisso soviético de estender assistência econômica e de defesa ao Benin pode ganhar em troca as permissões aéreas e navais. Nesse sentido, um navio anfíbio soviético realizou recentemente a primeira visita ao Benin. No entanto, o aeroporto de Cotonou, com sua pista de 2.500 metros, é inadequado para a rotina operacional dos Bear D. A extensão da pista seria difícil por causa da proximidade com a cidade e com o mar.
  3. GUINÉ EQUATORIAL. As instalações aéreas na Guiné Equatorial, seja no continente próximo a Bata ou em Fernando Pó8 são atualmente inadequadas para o Bear D. As pistas têm menos de 2.240 metros e nenhuma nova construção foi detectada. Embora a Guiné Equatorial seja pobre e receba ajuda considerável dos países comunistas, seu errático presidente suspeita tanto dos soviéticos que é improvável que conceda permissões para os Bear D. Mesmo se o fizesse, ele poderia retirar a permissão por simples capricho.
  4. ANGOLA. A URSS e Angola assinaram um tratado de amizade em outubro de 1976. Embora o Bear D tenha sido enviado pela primeira vez a Luanda neste inverno, não sabemos se o tratado soviético-angolano prevê sua operação regular lá. No entanto, nas atuais circunstâncias, é improvável que o governo angolano recuse um pedido soviético de usar Luanda como base de operações regulares – apesar da preocupação do novo governo em manter uma imagem de desalinhamento. Contudo, permanece o fato de Angola, localizada a 3.000 km mais longe de Conacri do que as habituais áreas operacionais do norte do Atlântico, é uma péssimo substituta.
  5. ARGÉLIA. Tecnicamente, os campos de pouso da Argélia seriam uma alternativa viável a Conacri. Embora os soviéticos tenham boas relações com a Argélia e possuam permissões para os AN-12 que apoiam o desdobramento dos Bear D na África, é improvável que a Argélia lhes conceda direitos de operação.
LIVRO RECOMENDADO:

Tupolev Tu-95 & Tu-142: Famous Russian Aircraft

  • Yefim Gordon, Dmitriy Komissarov (Autores)
  • Em inglês
  • Capa dura

Notas

1 (Nota original): este Memorando de Inteligência Interagências foi produzido pelo Oficial Nacional de Inteligência para Forças Convencionais com contribuições e anuência da CIA, INR e DIA. (adendos do VG: CIA: Central Intelligence Agency; INR: Bureau of Intelligence and Research; DIA: Defense Intelligence Agency).

2 (Nota do VG): Aeroporto Internacional de Conacri, na Guiné.

3 (Nota original): uma unidade de Aviação Naval Soviética que incluía aeronaves de reconhecimento TU-16 de menor alcance foi mantida continuamente no Egito entre 1968 e 1972.

4 (Nota do VG): Ahmed Sékou Touré foi presidente da Guiné de 1958 até sua morte em 1984.

5 (Nota do VG): O Tupolev Tu-114 é uma aeronave maior e com maior alcance que o Antonov An-12.

6 (Nota do VG): O Aeroporto Internacional Amílcar Cabral localizado na Ilha do Sal, Cabo Verde.

7 (Nota do VG): em 17 de janeiro de 1977, a “Opération Crevette”, também conhecida como “Operation Shrimp”, foi uma tentativa fracassada de derrubar o governo do Benin por mercenários franceses contratados por um grupo de políticos beninenses exilados.

(Nota do VG): a atual Ilha Bioko (ou Bioco), ilha principal da Guiné Equatorial, localizada no Golfo da Guiné, próxima da costa de Camarões.


*Albert Caballé Marimón possui formação superior em marketing, é fotógrafo profissional e editor do blog Velho General. Já atuou na cobertura de eventos como a Feira LAAD, o Exercício CRUZEX e a Operação Acolhida. É colaborador do Canal Arte da Guerra e da revista Tecnologia & Defesa. Pode ser contatado pelo e-mail: caballe@gmail.com


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0 comentário

  1. boa tarde : seria possível um tu 95 -d em 1974 ter invadido o espaço aéreo brasileiro, e sobrevoado o território onde não houvesse cobertura de radar?

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