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Por Albert Caballé Marimón

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O porta-aviões USS Abraham Lincoln (CVN 72) lidera a formação de navios do seu Strike Group no Oceano Índico. (Foto: US Navy / Mass Comm Specialist James R. Evans)

As informações que chegam do Oriente Médio parecem indicar que os ataques à ARAMCO não partiram do Iêmen. Sabe-se que o Irã apoia os houthis, desde informações e financiamento até armas e treinamento. Os americanos acusaram o Irã abertamente pelos ataques, e segundo declaração do presidente Trump através do Twitter, os EUA estão “travados e carregados” (locked and loaded) para atacar o Irã em retaliação. Mas a questão é: o que, efetivamente, os EUA farão em resposta?


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A primeira opção seria a aplicação de mais sanções, mas além de não causarem o mesmo impacto psicológico de uma ação militar, os EUA já impuseram diversas sanções à economia do Irã; dificilmente mais sanções teriam grandes efeitos práticos. Além disso, os sauditas provavelmente esperam dos EUA um apoio mais contundente.

Com relação às opções militares, há diversas possibilidades, e todas envolvem riscos. Vejamos algumas.

Bloqueio marítimo: impor um bloqueio aos portos iranianos, fechando o Estreito de Ormuz, teria consequências econômicas graves para o Irã, mas também traria riscos importantes para os EUA. Seria necessária uma força naval considerável, possivelmente exigindo o uso de vários grupos de batalha por um prazo potencialmente ilimitado; os custos disso são enormes. É de se esperar que essa frota seria atacada por mísseis iranianos. Embora seja presumível que os navios da US Navy são dotados de medidas antimíssil eficazes, qualquer erro poderia custar aos EUA um navio importante. Contrapor contramedidas efetivas iria requerer ataques aéreos e outras ações que aumentariam ainda mais os custos da operação. Como mencionado, é impossível definir de antemão um prazo de duração; se o Irã resistir à pressão, o bloqueio teria que continuar indefinidamente, pois interrompe-lo sem que tenha sido bem-sucedido seria equivalente a uma derrota.


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Ataques contra alvos no Irã: uma segunda opção seria uma campanha aérea de ataques a alvos em território iraniano, como as fábricas que produzem drones e mísseis, bases de operação, instalações de armazenamento e assim por diante. É certo que os serviços de inteligência dos EUA mapearam essas informações, mas há dúvidas sobre sua acuracidade. Agir com informações imprecisas, além de ineficiente, pode resultar em ataques de retaliação iranianos às forças dos EUA ou a outros alvos sensíveis.

Envio de tropas terrestres: a opção de envio de tropas não seria uma solução rápida e além disso colocaria os EUA em mais uma guerra de ocupação. Não há muitas dúvidas que as forças armadas americanas podem derrotar as forças iranianas e ganhar terreno, mas a manutenção do avanço conquistado criaria um conflito interminável com baixas insustentáveis. O Irã é um país muito grande, com mais de oitenta milhões de habitantes, e imaginar que tropas americanas seriam bem recebidas seria pura fantasia.

Ataque a alvos iranianos fora do Irã: os EUA tem se preocupado muito com a crescente influência política iraniana no Oriente Médio. Portanto uma quarta opção seria agir militarmente com o objetivo de reduzir essa influência. O Irã possui forças próprias ou “proxies” no Iraque, na Síria, no Líbano e no Iêmen. Teerã investiu tempo e recursos e correu riscos na criação dessas forças. Um ataque efetivo ao Hezbollah no Líbano, por exemplo, com força suficiente para destruir ou incapacitar a organização, poderia minar o controle iraniano sobre a estrutura política do país, além de fechar-lhe a porta do Mediterrâneo. Isso prejudicaria muito os interesses do Irã e talvez seja realizado com riscos menores que as opções anteriores. É claro pode desencadear uma onda de ataques com mísseis pelo Irã, mas isso ocorreria em qualquer outra opção. Alternativamente, os EUA poderiam atacar forças do Irã na Síria ou no Iraque, mas o impacto seria menor. No entanto, do ponto de vista dos sauditas, responder ao Irã com ataques a seus proxies talvez não seja percebido como um compromisso dos EUA com sua segurança, já que o próprio Irã não seria atingido diretamente.

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  • Charles River Editors (Autor)
  • Em inglês
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Todas as opções podem envolver aliados, mas isso parece improvável. Embora a OTAN e a ONU não se sintam à vontade com a agressividade iraniana, culpam Trump por incitar a crise ao sair do acordo nuclear com o Irã. Os países do Golfo não gostam de agir diretamente por causa da força e da proximidade iranianas, e preferem apenas fornecer apoio e bases.

Em entrevista ontem, Donald Trump disse que “parecia que o Irã havia conduzido os ataques” e que as conclusões da inteligência seriam reveladas em breve, mas acrescentou que foi “um ataque à Arábia Saudita, não aos EUA”.

Trump teria dificuldades em qualquer opção. Se um bloqueio não destruir a economia do Irã, pode ser necessária uma escalada para eliminar sua capacidade ofensiva. Uma ofensiva aérea pode demorar muito mais do que o esperado com resultados nem sempre positivos. Uma ofensiva terrestre pode trazer perdas insustentáveis muito próximas a uma eleição presidencial. Ataques em pequena escala podem se transformar numa operação prolongada, cara e com resultados duvidosos. O Irã pode muito bem possuir mísseis bem escondidos capazes de atacar alvos em toda a região.

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Apesar da agressividade no Twitter, Trump tem relutado em usar força militar e evita entrar em conflitos. Como homem de negócios, ele é avesso a desperdiçar dinheiro sem resultados positivos. O limite para Trump parecem ser baixas americanas, e até agora os iranianos não causaram nenhuma.

Em suma, qualquer ação para eliminar a capacidade militar do Irã pode ser muito custosa e não trazer os resultados desejados, ou pelo menos não a curto prazo. Com uma eleição presidencial americana se aproximando, os iranianos parecem ter deixado Donald Trump numa sinuca. Apostam que os riscos são altos demais. A pergunta é: serão mesmo?


*Albert Caballé Marimón é fotógrafo profissional e editor do Blog Velho General. Já atuou na cobertura de eventos como Feira LAAD, Exercício CRUZEX e Operação Acolhida. É colaborador do Canal Arte da Guerra e da revista Tecnologia & Defesa. E-mail: caballe@gmail.com


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14 comentários

  1. Muito interessante o que o Trump disse. O ataque foi contra a Arábia e automaticamente pensamos no que os EUA irá fazer, já que se trata de um aliado deles.

  2. Excelente artigo Albert. Me permita a intimidade. Já me considero quase um amigo dos papos do grupo do ADG. RS.
    Voltando ao artigo vc não poderia ter abordado melhor as opções. No entanto pelo perfil que Trump vem deixando duvido que ele responda diretamente. Creio que vai dar meios aos Sauditas para eles mesmo retaliar. Oque seria uma boa opção. Primeiro o EUA não entram em conflito direto e em segundo porque com os sauditas mostrariam que podem se virar sozinhos.

    1. Concordo com você. O Trump só late. Duvido que ele ordene um ataque contra os iranianos. O que ele vai fazer, no máximo, é vender equipamentos militares para os sauditas se virarem sozinhos por um precinho camarada. Mas aí, vem novamente a dúvida: seria o suficiente para os sauditas?

      1. Eu acredito que ele pode fazer mais que repassar equipamentos. Ele por por exemplo passar dados sobre colonização de alvos. Pode imterferi mais desefas com meio de hackamento. Coisa do Tipo. Mais vamos ver.

  3. Seria interessante uma observação sobre a real condições das forças sauditas. Compreender como foi e é seu treinamento e quem fora os EUA mantêm com uma real relação na área de defesa.

  4. Os EUA tem que agir militarmente contra alvos militares e contra o governo iraniano, qualquer outra opção vai dar ideia que o Irã pode agir sem sofrer retaliações. As retaliações econômicas afeta os civis e o governo não tá muito preocupado com a população, são fanáticos religiosos.

  5. O trump tem que entender que o pais não vive apenas de lucro, precisa de influencia no mundo arabe, e os EUA estão perdendo terreno, ou o trump ataca ou irã vai fazer oque bem desejar na região.

  6. Boa tarde! mais um Excelente texto Albert, obrigado por compartilhar seus pensamento e conhecimentos. Qual a possibilidade da China fazer algo a respeito? e a Russia ? Forte abraço!

    1. Difícil dizer, mas penso que o mais possível é que se envolvam apenas no nível de fornecer equipamento. No entanto, no Oriente Médio pode-se esperar de tudo. Vamos acompanhar. Um abraço!

  7. Eu entendo quando nas análises aqui e canal do Cmte Robson vê Trump como não dado ao belicismo por uma lógica de empresário, mas esquecem que as atitudes comerciais de Trump não são assim virtuosas visto por seus concorrentes, eu chuto que se houver uma oportunidade de ação militar Trump não vai claudicar em faze-lo.
    Quanto aos Persas também sabem do limite que a corda pode ser tencionada pois colocaria em colapso sua economia e o regime.

    1. Trump nao gosta de queimar dinheiro, mas não significa que seja um santo. É um jogo de gato e rato, vamos aguardar o desenrolar, OM sempre pode surpreender.

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