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Por Albert Caballé Marimón

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Na última quinta-feira houveram incidentes com dois navios no Golfo de Omã, próximo ao Estreito de Ormuz, o Kokuka Courageous e o Front Altair. Ocorreram explosões em ambos os navios. A razão das explosões ainda não está clara, tendo sido reportadas como decorrentes de torpedos, minas e mesmo “artefatos voadores”, sugerindo um ataque por mísseis.


Mapa
Mapa com a localização aproximada dos navios (sem escala)

Segundo a agência Reuters, Yutaka Katada, presidente da Kokuka Sangyo Co. Ltd., a empresa proprietária do Kokuka Courageous, disse que o navio foi atingido duas vezes num período de três horas antes da tripulação ser evacuada. A empresa recebeu relatos do ataque pela primeira por volta das 04:00 GMT. O navio informou danos no casco de estibordo. Os membros da tripulação foram resgatados pelo rebocador holandês Coastal Ace e posteriormente transferidos ao destróier americano USS Bainbridge.

A Norwegian Maritime Authority (Autoridade Marítima da Noruega) informou que três explosões, decorrentes de causas desconhecidas, foram registradas a bordo do petroleiro Front Altair, pertencente à empresa norueguesa Frontline. Um incêndio ocorreu na sequencia das explosões. Os 23 tripulantes foram resgatados pelo cargueiro sul-coreano Hyundai Dubai e posteriormente transferidos a um navio iraniano e levados a um porto iraniano.

Segundo o The Wall Street Journal, autoridades japonesas informaram que o destino de ambos os navios era a Ásia. No momento dos ataques, Shinzo Abe, o primeiro-ministro japonês, estava em Teerã em encontro com o aiatolá Ali Khamenei.


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Slide de apresentação Powerpoint do US CENTCOM mostrando os danos causados por uma explosão, à esquerda, e uma provável mina magnética no casco do M/V Kokuka Courageous no Golfo de Omã, em 13 de junho de 2019. Imagem feita quando o USS Bainbridge aproximava-se do navio danificado (Foto: US Navy)

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, Seyed Abbas Mousavi, disse no Twitter que “expressamos preocupação com os incidentes suspeitos que aconteceram hoje com os petroleiros japoneses concomitantemente a um encontro entre o primeiro ministro japonês e o líder supremo da Revolução Islâmica Ayatollah Seyed Ali Khamenei”.

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, divulgou uma declaração, também via Twitter, culpando o Irã pelos ataques; o Irã negou envolvimento. Estes ataques seguem-se a incidentes similares no mês passado, quando o assessor de segurança nacional dos EUA, John Bolton, afirmou que os navios foram danificados por minas marítimas iranianas. Teerã negou a alegação.

Na noite de ontem, o US CENTCOM (United States Central Command, o Comando Central Americano) divulgou o seguinte cronograma de eventos que, em conjunto com fotos e um vídeo, mostrariam o envolvimento iraniano no incidente. O ataque aos dois navios, que teria utilizado minas, seria uma ação de unidades da Marinha da IRGC (Iranian Revolutionary Guard Corps, a Guarda Revolucionária Iraniana):

  • Ambos os navios estavam em águas internacionais no Golfo de Omã, a cerca de 10 milhas náuticas de distância, no momento dos pedidos de socorro. O USS Bainbridge estava a aproximadamente 40 milhas náuticas do M/T Altair no momento do ataque e imediatamente dirigiu-se ao local.
  • Às 8:09 da manhã, horário local, uma aeronave dos EUA observou um barco de patrulha da classe Hendijan da IRGC e várias embarcações de ataque rápido (FAC/FIAC) nas proximidades do M/T Altair.
  • Às 9:12 da manhã, horário local, uma aeronave dos EUA observa que as FAC/FIAC* puxam um bote do M/T Altair da água.
  • Às 9h26, hora local, os iranianos solicitaram que a embarcação Hyundai Dubai, que resgatara os marinheiros do M/T Altair, entregasse a tripulação aos FIACs iranianos. A embarcação Hyundai Dubai atendeu ao pedido e transferiu a tripulação do M/T Altair para os FIACs iranianos.
  • Às 11h05, hora local, o USS Bainbridge se aproxima do rebocador holandês Coastal Ace, que resgatou a tripulação de vinte e um marinheiros do M/T Kokuka Courageous, que havia abandonado o navio depois de descobrir uma provável mina não deflagrada no casco após uma explosão inicial.
  • Enquanto o barco de patrulha classe Hendijan parecia tentar chegar ao rebocador Coastal Ace antes do USS Bainbridge, os marinheiros foram resgatados pelo USS Bainbridge a pedido do mestre do M/T Kokuka Courageous. Os marinheiros resgatados estão atualmente a bordo do USS Bainbridge.
  • Às 16:10h hora local um barco patrulha da classe Gashti do IRGC aproximou-se do M/T Kokuka Courageous e foi observado e registrado removendo a mina magnética não detonada do M/T Kokuka Courageous.

Vídeo da US Navy: Ataque com minas magnéticas no Golfo de Omã: 13 de junho de 2019


Em entrevista para a Fox News, o presidente americano, Donald Trump, citou o vídeo divulgado pelo US CENTCOM ao culpar o Irã pelos ataques, descrevendo que o país é uma “nação de terror”.

Horas antes, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, afirmou que os EUA estavam fazendo alegações sem “nenhum fragmento de evidência factual ou circunstancial” e acusou o governo Trump de “diplomacia de sabotagem”.

No entanto, o vídeo não convenceu a todos. Segundo a agência Reuters, o ministro de Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas declarou que o vídeo não é suficiente para provar que o Irã está por trás dos ataques. “O vídeo não é suficiente. Podemos entender o que está sendo mostrado, com certeza, mas para fazer uma avaliação final, isso não é suficiente para mim”, disse Maas a repórteres durante uma visita a Oslo.


Sobre este assunto, assista também ao Vídeo 637 do CANAL ARTE DA GUERRA: Iran Vs EUA: Mais dúvidas do que votos de confiança


No programa BBC Today, o ministro das Relações Exteriores britânico, Jeremy Hunt, afirmou que o Reino Unido não tem motivos para duvidar da avaliação americana e que a tendência é acreditar nos aliados mais próximos. Ainda assim, disse que “vamos fazer nossa própria avaliação independente, temos nossos processos para fazer isso”.

De acordo com o USNI News, a UKMTO (U.K. Marine Trade Operations) informou que está investigando os incidentes (a UKMTO é uma entidade da Royal Navy que atua como um canal de informações entre as forças armadas e o comércio marítimo internacional).

No mês passado, os EUA enviaram o Grupo de Batalha do USS Abraham Lincoln para o Oriente Médio com base em informações de inteligência com “indicações e advertências preocupantes”, disse Bolton na época. O USS Bainbridge, com base em Norfolk, na Virgínia, faz parte do grupo de batalha do USS Abraham Lincoln.

Atualização (19:50)

Segundo o The Guardian, agora à noite (sexta-feira), o Reino Unido atribuiu os ataques ao Irã. Depois de realizar sua própria avaliação o Ministério das Relações Exteriores emitiu um comunicado dizendo: “É quase certo que um ramo das forças armadas iranianas – o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica – atacou os dois petroleiros em 13 de junho. Nenhum outro estado ou ator não estatal poderia ter sido responsável”.

A nota acrescenta ainda, que “Há precedentes recentes para ataques do Irã contra petroleiros. A investigação liderada pelos Emirados Árabes sobre o ataque de 12 de maio a quatro petroleiros perto do porto de Fujairah concluiu que foi conduzida por um ator estatal sofisticado. Estamos confiantes de que o Irã é responsável por esse ataque”.


Fontes: Agência Reuters, The Wall Street Journal, Fox News, USNI News, US Central Command, BBC News e The Guardian.


*FAC/FIAC: Fast Attack Craft / Fast Inshore Attack Craft, embarcações de ataque rápido de pequeno porte, rápidas, ágeis geralmente armadas com canhões e/ou metralhadoras, mísseis anti-navio ou torpedos, muito usadas pela marinha iraniana


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7 comentários

  1. Mais uma boa matéria.
    Mais eu ainda creio que pode ter um terceiro ator por aí. Alguém que se beneficiaria com uma bagunça entre irá e aliados.

  2. O Irã não é o Iraque. GW Bush e sua turma de governo colocaram o Irã como eixo do mal… Só ter internalizado a Estratégia Militar Americana… Torcer para que não ocorra maiores problemas. Ou, outro atoleiro dos bons à vista.

      1. Exatamente este o problema. Militarmente os EUA são imbatíveis. Chegam e arrasam com tudo. E o depois, como fica? Veja o atoleiro que virou o Iraque e o Afeganistão (Vietnamistão para alguns).

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