Lockheed Martin F-35: É tão ruim quanto dizem os críticos?

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Artigo do MiGFLUG, tradução de Albert Caballé Marimón

O Lockheed Martin F-35 Lightning II tem sido amplamente debatido não só desde o seu primeiro voo em 2006. O projeto custou mais de 1 trilhão de dólares até agora e espera-se que alcance mais de 1,5 trilhões em todo o seu ciclo de vida. Mas uma aeronave que custa tanto dinheiro dificilmente pode ser o que as pessoas dizem sobre ela: lixo, limão, não consegue fazer o que aviões faziam há 50 anos, etc. A razão para isso é que ele pode ter sido analisado de forma questionável; quando as pessoas o comparam com outras aeronaves, podem não estar comparando da forma correta. Este artigo tentará descrever o que realmente é o F-35 e por que ele pode ser melhor do que alguns críticos dizem.


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F-35C (Foto: MiGFlug)

O QUE É O F-35?

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F-35B no primeiro pouso vertical em 18 de março de 2010 (Foto: Damien A. Guarnieri/Lockheed Martin)

Em primeiro lugar, vamos explicar qual é realmente a idéia do F-35 e por que ele se tornou tremendamente caro. O F-35 foi uma ideia inteiramente nova sobre como construir um avião. Ele apresenta características de quinta geração, tais como armas modernas, furtividade e aviônicos super avançados. Mas também foi construído com uma ideia especial em mente. A ideia era usar uma única estrutura (airframe) para o F-35A, o F-35B e o F-35C, que serão usados ​​em diferentes ramos das forças armadas dos EUA – A Força Aérea, os Marines e a Marinha. A ideia por trás dessa estratégia foi a economia de escala – produzir muito da mesma coisa é como uma produção em massa, o que reduziria significativamente o custo unitário. Mas os problemas começaram a se acumular quando se iniciou o trabalho no motor do F-35B, que deve ser capaz de decolar e aterrissar verticalmente, para ser usado em porta-aviões. Projetar esse novo motor e encaixá-lo numa aeronave já super avançada foi uma tarefa complicada. Para construi-lo foram necessários milhares de engenheiros e um enorme orçamento.


Documentário canadense sobre o processo de compra do F-35:


CARACTERÍSTICAS DE UM CAÇA

Uma das principais características de um avião é obviamente a sustentação. Sem sustentação suficiente, o avião simplesmente cairá no chão; poderá usar a potência extra do motor para mantê-lo voando, no entanto, isso diminui tanto a eficiência no consumo de combustível quanto o alcance da aeronave. O que muitos críticos reclamam do F-35 é que ele tem asas muito pequenas (para ser armazenado de forma compacta num porta-aviões), o que lhe daria pouca sustentação. Os críticos dizem que as pequenas asas dão má sustentação ao F-35 porque a área das asas é crucial para que uma aeronave tenha boa sustentação.

Mas o que eles parecem subestimar é que, na verdade, o corpo do caça aumenta muito a sustentação, o que foi testado com o Martin Marietta (agora parte da Lockheed Martin) X-24A. Ele fez seu primeiro voo em 1969 e era basicamente uma fuselagem com motor. A forma do corpo, ao invés das asas (que não tinha), dava-lhe sustentação para voar, o que torna a pequena área da asas do F-35 um número que realmente não importa (mas ainda assim, asas grandes podem melhorar a sustentação). Um dos críticos mais agressivos é Pierre Sprey. Sprey é um ex-projetista de aeronaves e analista de defesa, e ele usa – entre outras coisas – o argumento das asas pequenas para explicar que “o F-35 é um limão”.


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F-35B com as baias de armamento abertas (Foto: Lockheed Martin)

Outra coisa importante é o arrasto. O arrasto é a resistência do ar que um avião enfrenta quando se move, e essencialmente, um corpo com forma pequena e elegante reduz o arrasto. O F-35 é grande e não tão aerodinâmico como, por exemplo, o Eurofighter Typhoon, mas o que reduz a resistência do F-35 comparado ao Typhoon, afinal, é que ele tem enormes baias internas de armamento. O Typhoon, em comparação, tem muito pouco arrasto sem tanques de combustível ou armas em seus hardpoints, mas quando ele passa a carregar tanques externos (o que normalmente ele faz) e mísseis, o arrasto aumenta tremendamente. Ainda é menor que o arrasto do F-35, mas a diferença de carregar seis mísseis ar-ar internamente (como o F-35) ou externamente como o Eurofighter faz uma boa diferença.


VÍDEO 576 DO CANAL ARTE DA GUERRA: PORQUE OS INTERNAUTAS FALAM TANTA BOBAGEM SOBRE O JATO F-35


QUÃO CARO ELE É?

A única coisa que geralmente diminui o valor do F-35 é o seu alto preço. O custo unitário, atualmente de cerca de US$ 150 milhões* (a versão VTOL) e um custo de manutenção de cerca de US$ 31.000 por hora de voo é extremamente caro em comparação com caças de geração 4.5 muito capazes. Por exemplo, o Eurofighter Typhoon custa cerca de US$ 110 milhões por unidade com um custo de manutenção muito menor (US$ 18.000 por hora). Portanto o preço é atualmente muito alto, mas devemos lembrar que o custo é (parcialmente) tão alto porque os engenheiros basicamente desenvolveram três aeronaves diferentes no mesmo projeto. O preço por unidade será reduzido quando todos os caças planejados forem construídos – atualmente, 2.400 para os EUA e algumas centenas para compradores estrangeiros. Esta foi a ideia original do F-35; produzir muitos, chegando a um custo unitário menor.


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O sistema Rolls-Royce LiftSystem acoplado a um turbofan Pratt & Whitney F135 no Paris Air Show em 2007 (Foto: Duch.seb/Wikipedia)

COMO SE COMPARA A OUTROS CAÇAS?

Mas existem muitos outros fatores que determinam a habilidade e a utilidade de uma aeronave de caça. A tabela abaixo mostra outros dados importantes.

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*RCS = Radar Cross Section: é uma medida do quanto um objeto é detectável por radar. Um RCS maior indica que um objeto é mais facilmente detectado. Veja mais neste artigo.

O F-35 não foi feito com foco principal em altas velocidades, ele é construído como uma aeronave de ataque (também), como o A-10 Thunderbolt II e, portanto, precisa de baixas velocidades para atirar no inimigo no solo por mais tempo antes de passar por ele. Seu RCS é um dos menores do mundo mesmo sem cargas externas, sem mencionar que quando os demais começam a carregar armas em suas asas, o RCS aumenta ainda mais em comparação com o F-35. Ele não tem as melhores capacidades de dogfight devido ao seu grande tamanho (Sprey o chama de “gordo”) e o grande motor atrás do cockpit que limita a visão traseira, mas os combates ar-ar modernos são principalmente BVR (Beyond Visual Range, além do alcance visual), o que significa que os caças dependerão muito de seus mísseis guiados por radar e infravermelho, ao invés de dependerem tanto de suas habilidades em dogfight.

O QUE DIZEM OS ENGENHEIROS E PILOTOS?

Todo mundo tem opiniões diferentes sobre ele, como pode ser visto abaixo e na mídia. O que no final faz com que seja realmente difícil saber 100% se ele é ou não um bom avião é que até mesmo pilotos e engenheiros (muito) experientes têm pontos de vista divididos.



– Peter Wilson, experiente piloto britânico de Harrier, disse que pilotar o F-35B foi simplesmente “mágico”: “Com o F-35B, você aperta um botão e o jato passa sozinho de 200 nós para a flutuação, o avião cuida de você.”

– “Mesmo antes das críticas, alguns analistas questionaram a capacidade do F-35 de derrotar os novos jatos Sukhoi e Shenyang.” (David Axe, correspondente militar).

– “É como se Detroit de repente lançasse um carro com fluido de isqueiro no radiador e gasolina no sistema hidráulico do freio: é assim que este avião é inseguro …” (Pierre Spray).



Essa é a amplitude de visões do projeto de um jato de um trilhão de dólares, e em quem podemos realmente acreditar? No mundo dos projetos de defesa modernos e super caros, há muitas informações ocultas e experimentos que provavelmente nunca virão à tona. Nós simplesmente temos que olhar para as informações que temos e formar nossa própria opinião sobre o assunto. E a experiência irá lançar um pouco de luz sobre as dúvidas que muitos têm agora.

Para concluir o artigo, gostaríamos de dizer que o F-35 entrou num clima tempestuoso. As pessoas o comparam de formas que não se encaixam no seu propósito e por isso deram-lhe o nome de “desastre de um trilhão de dólares”. Mas ele não pode ser comparado ao F-22 Raptor (que também é freqüentemente criticado principalmente devido ao custo ainda mais alto), já que o F-35 é um jato multimissão que pode ser usado para uma grande variedade de missões, enquanto o F -22 é primariamente um caça de superioridade aérea com capacidade limitada de ataque ao solo e guerra eletrônica.


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Cap. Andrew “Dojo” Olson, comandante da Equipe de Demonstração F-35 executa uma passagem de alta velocidade num F-35A no Heart of Texas Airshow, 7 de abril de 2019. (Foto: USAF/Senior Airman Alexander Cook)

Como demonstramos, ele não é o melhor jato do mundo em todos os aspectos, mas não é tão ruim quanto muitas pessoas dizem. Ele se encaixa em seu propósito, embora seja no mínimo questionável se vale a pena o preço de US$ 150 milhões. No entanto, quando o preço baixar com o aumento da produção, talvez não seja um investimento tão ruim para seus compradores. Mas não se pode realmente dizer se vale ou não a pena a longo prazo; pode haver, por exemplo, um novo sistema de armas superfície-ar sendo desenvolvido que coloque em risco caças com tecnologia furtiva.

*Nota do tradutor: o custo atual do F-35B, no LRIP 11, é de US$ 115,5 milhões (conforme informação da Lockheed Martin)

Foto de capa: Lockheed Martin


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X-35: Progenitor to the F-35 Lightning II

    • Hugh Harkins (Autor)
    • Em inglês
    • Versões eBook Kindle e Capa Comum
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F-35 Lightning II Illustrated (The Illustrated Series of Military Aircraft)

    • Lou Drendel (Autor, Ilustrador)
    • Em inglês
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    • David Archibald (Autor)
    • Em inglês
    • Versões eBook Kindle e Capa Comum

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16 comentários

  1. Ainda muito cedo para avaliar no F 35, é um avião caro tem defeitos que tem ser corrigidos ( isso deve ao seu novo conceito e propósito e também a novas tecnologias empregadas), não vejo porque os críticos criticam tanto o F 35 , ninguém diz que era o melhor caça do mundo.
    Excelente artigo, esclareceu umas dúvidas que tinha do F 35.

  2. Esse avião é uma obra de arte. Quando o ser humano inventou a arte, apareceu o seu sub produto: o crítico. Não seria diferente agora.

  3. Mais um excelente artigo! Parabéns a todos! Aprendo sempre com os artigos, apesar de não conseguir ler todos! Quanto ao artigo em específico, até mesmo entre profissionais e especialistas da área de Defesa não existe unanimidade, ou lado A versus lado B, mais uma firmeza de propósito em busca da melhoria, mas olhando de diferentes formas. Um projeto de Defesa sempre é de longo prazo, tanto em manufatura quanto em emprego e a polivalência que se deseja com o F-35 pode dar ao caça uma sobrevida, mas o que deve ou pode abreviar sua vida operacional será o quanto ao longo do tempo o caça pode se adaptar as diversas formas de combater. Bravo Zulu a todos!

    1. Muito obrigado pelo comentário! Um projeto como o F-35 é de uma complexidade gigantesca, além disso, muitas críticas acabam tendo um certo viés ideológico. Mais uma vez obrigado por acompanhar o blog e por comentar!

  4. Artigo equilibrado, imparcial e claro. Traz luz ao assunto F-35 e desmistifica muito “Brigadeiro de Sofá” por aí. Forte abraço!

  5. Já tive oportunidade de falar com vários pilotos de F-35 e outros que enfrentaram (em treino) o F-35 e todos são unânimes: é um avião sem rival atualmente.
    Conheci até pilotos que falavam mal mas mudaram de opinião depois de enfrentarem em voo.
    O erro de análise de quase todos que falam mal, é que ainda não perceberam que o F-35 é o primeiro de um novo conceito de caça: o F-35 será mais um “hub” controlador de várias plataformas de armamento (no ar, mar e terra) do que apenas um dogfighter.
    Mesmo em relação ao preço, criou-se o mito de ser caro, mas a versão F-35A custa já atualmente (90USD), tanto ou menos que o Rafale ou Typhoon.
    A minha dúvida em relação à supremacia do F-35 tem apenas que ver com quando tiver que enfrentar outro caça de 5ª Geração. Mas isso é como tudo na história bélica. Toda a arma tem um prazo de validade.
    Um abraço meu amigo Albert e continue o excelente trabalho!

    1. Excelente comentário, meu caro, concordo em gênero, número e grau. Como tudo o que é novo, atrai detratores, e em tempos de internet, bem, como já disse Umberto Eco…! Um abraço meu amigo, e obrigado por comentar!

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