Defesa Antiaérea: Parte 2 (Argentina)

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Capas-Defesas-Aerea
Por Albert Caballé Marimón

Introdução

Este artigo continua com a análise sobre a necessidade de o Brasil investir em sistemas de defesa antiaérea de longo alcance através da análise dos riscos representados pelas forças aéreas dos países vizinhos. Esta abordagem considera as capacidades das forças aéreas vizinhas e estima qual seria seu alcance e potenciais alvos dentro de nosso território.

Procuramos ter em mente que, dado o custo dos citados sistemas, é fundamental avaliar os riscos reais que o país corre neste sentido para determinar a necessidade de priorizar recursos orçamentários para este fim em detrimento de outros – afinal, esta é a questão: numa realidade de recursos limitados, seria esta uma prioridade de investimentos?

Acesse aqui a 1ª Parte com a análise da Venezuela.

Argentina

A República Argentina localiza-se entre a Cordilheira dos Andes a oeste e o oceano Atlântico a leste. Tem área total de 2.780.400 km², e população de aproximadamente 44 milhões de habitantes. A capital do país é Buenos Aires, localizada no estuário do Rio da Prata. O país reivindica as Ilhas Falklands/Malvinas, Geórgia do Sul e Sandwich do Sul, possessões britânicas, pelas quais já travou e perdeu uma guerra em 1982. Com mais de 1.200km de extensão, a fronteira entre Argentina e Brasil se inicia nas Cataratas do Iguaçu, segue os percursos dos rios Iguaçu, Santo Antônio, Peperi Guassu e Uruguai até à foz do rio Quaraí.

Situação da força aérea

A condição das forças armadas argentinas é extremamente penosa, e na Fuerza Aérea Argentina a situação não é diferente. Os últimos Mirage III foram aposentados em 2015 e não houve reposição. Como agravante, a situação econômica do país não tem permitido a manutenção adequada de seus Lockheed Martin A-4 Fightinghawk, e, apesar de a FAA possuir um numero aproximado de trinta destas aeronaves, sua paralização foi anunciada mais de uma vez e é bastante incerta a quantidade delas em operação.

Segundo noticiado pelo Infodefensa.com em 2016, devido às dificuldades orçamentárias, a FAA anunciou oficialmente a retirada de serviço dos A-4AR para 2018, quatro anos antes do previsto originalmente. Esta situação deixa a FAA com um único modelo de jato em operação, o IA-63 Pampa, aparelho de treinamento e ataque leve, ainda assim com pequeno número de aeronaves de manutenção também precária. Os Pampa são complementados pelos turboélices de combate ligeiro IA-58 Pucará, em condição de manutenção não muito melhor.

Em meados de 2018, foi noticiada na mídia especializada a compra de cinco unidades do Super-Étendard Modernisé da França, aeronaves que inclusive teriam sido objeto de disputa entre a FAA e a Armada, o que só evidencia o estado em que ambas se encontram. Não obtive uma notícia conclusiva sobre a finalização desta aquisição, ou se as aeronaves foram ou não entregues.

Esquadrões de combate

Tabela-Bases-AR

Note-se que a tabela inclui unidades de combate da Fuerza Aérea Argentina e da Armada Argentina. Estes esquadrões estão distribuídos em bases espalhadas pelo território argentino, conforme ilustrado no mapa abaixo. As bases mais próximas do território brasileiro são a base da III Brigada Aérea em Reconquista, estado de Santa Fé, que opera esquadrões de ataque equipados com Pucarás, e a base Paraná/Gral. Urquiza, ER (SAAP), que opera um esquadrão aerofotográfico e outros esquadrões de apoio.

Bases-ARG

Potenciais alvos em território brasileiro

Os A-4, se ativos, operam no Grupo Aéreo 5 de Caza baseado em Villa Reynolds, e os Super-Étendard, a partir da Base Aeronaval Comandante Espora, em Bahía Blanca. Para efeito desta avaliação, num hipotético cenário de conflito com o Brasil, assumimos que as aeronaves operariam na base da III Brigada Aérea em Reconquista, estado de Santa Fé, mais próxima do território brasileiro.

A partir dela seria possível aos Super-Étendard alcançarem Porto Alegre, a maior parte do RS e parte de SC; os A-4 chegariam a Curitiba e toda a região Sul do país, ou até Campo Grande e parte do MS.

Para o alcance estimados das aeronaves, consideramos os seguintes dados:

Super-Étendard: 850km em perfil de ataque hi-lo-hi c/ 855kg de carga de combate e 1 tanque extra – Wikipedia;

A-4 Skyhawk: 1.100km com 925kg de carga de combate e 2 tanques externos de 300 galões – “Quest for Performance: The Evolution of Modern Aircraft  Part II: THE JET AGE Chapter 12: Jet Bomber and Attack Aircraft – Three Navy Attack Aircraft” (NASA History).

Alcance-SE+A4

Considerações

Partindo de Reconquista, os Super-Étendard e os A-4 Fightinghawk seriam capazes de alcançar regiões de importância bastante significativa – assumindo que estes aparelhos estejam em condições operacionais e os A-4 não tenham sido efetivamente retirados de serviço.  No entanto há que se ponderar que, ao contrário da rivalidade existente entre Brasil e Argentina até a década de 1970 – relacionada principalmente ao projeto de Itaipú e à competição dos projetos nucleares de ambos os países – a Argentina é hoje um dos principais parceiros econômicos do Brasil, destino de parcela significativa das exportações brasileiras.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores, “…a proximidade com a Argentina constitui pilar importante do esforço de construção de um espaço de paz e cooperação no entorno brasileiro. A alta densidade da cooperação política entre ambos os países reflete-se nos frequentes encontros e visitas bilaterais em nível presidencial e ministerial e na existência do Diálogo de Integração Estratégica Brasil-Argentina, mecanismo de alto nível para o tratamento dos principais assuntos de interesse bilateral.

Além da importante parceria comercial, Brasil e Argentina mantém cooperação em iniciativas científicas e militares; além disso, o Brasil tem apoiado, na ONU, as reivindicações argentinas sobre as Ilhas Malvinas. Portanto, independentemente da situação das forças armadas argentinas, as boas relações comerciais e políticas entre ambos os países fazem com que qualquer especulação de conflito armado não passe de uma abstração sem maior sentido.

Acesse aqui a 1ª Parte com a análise da Venezuela.

Referências

As seguintes fontes foram utilizadas nesta análise:

• Super-Étendard – Wikipedia

• A-4 Skyhawk – “Quest for Performance: The Evolution of Modern Aircraft Part II: The Jet Age, Chapter 12: Jet Bomber and Attack Aircraft – Three Navy Attack Aircraft” – NASA History

• “Argentina adelanta a 2018 la desprogramación del sistema A-4R” – Infodefensa.com

• Relações entre Argentina e Brasil – Wikipédia

• República Argentina – Ministério das Relações Exteriores


 

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